Pasaje
la transición sucede
rememora un comienzo
ruido blanco
pero el futuro apenas
se acerca, todavía no llega.
hablo de la imposibilidad
del desconcierto
de la falta de armonía de las cosas
si supieras que te vas a morir.
antes do encontro
procurar uma escada de madeira
dando para o abismo
é uma ação que só pode acontecer nesta língua
estranha e numa cidade cortada por um rio
que fique no meio dos dois
(quando um precisa ir embora
para sempre)
mas um dia ela chega
com a pergunta:
— o que vem à sua cabeça
quando digo a palavra
amor?
um dia desce no meio do dia
e vê. e um dia vê a peça lilás sobre a quina da mesa
quando volta. ele diz saltar. saltar para fora.
e atravessa na esquina
procurando a escada. depois diz que quer saltar
para fora desta canção.
mas um dia chega com
a pergunta:
— o que vem à sua cabeça quando
digo a palavra amor?
e ela responde
que amor em japonês
se diz /ai/.
e, de repente, um branco.
as linhas se tornam cada vez mais
quebradiças. um banco parado no meio da cena,
um quadrado iluminado e a frase mais longa
que ele me disse nos últimos
seis meses.
o que significa um cachecol vermelho
pinicando sozinho?
uma abelha, pensa, mas o cachecol pinicando,
voando como uma abelha, talvez um inseto
estridente, incidente para ouvir quando ele
chegar e vir.
agora sobrou apenas a estática
tremendo e você a leva de volta até o barco:
— a estática?, pergunta, você lembra
daquela vez? e ela fica parada na chuva
com o colete salva-vidas esperando
alguma coisa acontecer.
[aqui o telefone
vibra na bolsa e um parêntese
para dizer que não sabe onde está mas é longe
não sabe onde está mas é frio
não sabe onde está mas é quase.
ao ouvir a voz,
parece de verdade,
e então ele levanta e me diz algo
sobre o fim
ou sobre o sim
e toca na tela uma imagem
do filme]
solo eso puedo hacer, de costado, en la cama.
Para intentar aliviar mi locura
cuando escribo siento un poco menos la carga.
Por no tenerte
porque ya no volvemos.
Nostos
There was an apple tree in the yard --
this would have been
forty years ago -- behind,
only meadows. Drifts
of crocus in the damp grass.
I stood at that window:
late April. Spring
flowers in the neighbor's yard.
How many times, really, did the tree
flower on my birthday,
the exact day, not
before, not after? Substitution
of the immutable
for the shifting, the evolving.
Substitution of the image
for relentless earth. What
do I know of this place,
the role of the tree for decades
taken by a bonsai, voices
rising from the tennis courts --
Fields. Smell of the tall grass, new cut.
As one expects of a lyric poet.
We look at the world once, in childhood.
The rest is memory.
Louise Glúck (Nueva York, 1943)